Existem várias inverdades relacionadas a videogames. Todo aquele papo de videogame estimular violência, etc por exemplo é ridículo, coisa de gente patética como o Jack Thompson, que só não culpou consoles pelo Holocausto porque Hitler escondeu o Atari dele antes de fugir pra Argentina se matar.
Um videogame não vai te transformar em um psicopata, na verdade nem  vai ajudar a extravasar sua raiva. Todo mundo que já jogou irritado sabe  que Rage Mode só funciona –sorry- em videogames. Você perde  concentração, coordenação, acaba tomando um teco nas idéias antes de  terminar de pensar “que belo lugar para uma emboscada”.
Por outro lado os jogos estão longe de ser aquele ambiente totalmente  livre, onde tudo vale e não há consequências. Há toda uma série de  regras não-escritas com as quais todo mundo concorda. 
Outras mídias seguem a mesma linha. Lembra dessa cena?
Independence Day,  aquela divertida farofa onde um Mac salva o mundo. Após as principais  cidades do mundo terem sido obliteradas pelos invasores, incontáveis  milhões de mortos, uma das mocinhas – a stripper com coração de Ouro - se  abriga em um túnel com o filho. Explosões em sequência, todos fugindo,  uma porta de acesso. Ela entra e lembra do cachorro no carro. Chama. O  fiel quadrúpede vai correndo, explosões quase alcançando.
No último segundo ele pula, a explosão obedientemente segue em frente  e o bicho se salva. O cinema inteiro aplaude, a platéia delira.  Entretenimento de primeira, mesmo todo mundo sabendo que o cachorro NÃO  morreria. 
Como? Hollywood não mata animais de forma gratuita. Nem crianças. Tem  que ser algo muito necessário ao roteiro. O garoto chegando nas ruinas  da casa e encontrando o cachorro morto, ainda de guarda? Sim. Um  cachorro anônimo sendo morto em uma explosão? Não. Adultos sim. 
É psicologia pura, deixa de ser entretenimento quando vemos indefesos  sendo machucados. Se há um causador específico ainda é possível, mas um  vilão deve ser desprezado, não odiado. Se Darth Vader empalasse  gatinhos não venderia um boneco sequer.
E nos games?
A imagem acima é do excelente Just Cause 2,  um FPS (First Person Shooter, Jogo de Tiro em Primeira Pessoa) estilo Open World onde você é uma espécie de James Bond Latino  em uma nação fictícia na Oceania, em meio a uma série de intrigas,  espionagem, etc. Como bom Bond você é exímio atirador e consegue pilotar  qualquer veículo existente. 
Após concluir a missão principal pode continuar trabalhando como mercenário, tocando zaralho no país.
Só que apesar de ser uma modalidade onde você ganha pontos por CAOS,  nem tudo é permitido. Não é possível explodir edificações civis como  casas e pontes, nem acertar aviões em prédios. Quer dizer, até pode, mas  não acontece nada.
Aviões em bases militares tá valendo. 
A população civil não é imune. Na imagem de abertura estou  experimentando uma forma de barbarizar: Você prende um civil inocente a  seu helicóptero (ou qualquer veículo) com seu gancho mágico e sai  arrastando o infeliz. É muito divertido ver o pobre coitado gritando até  você se cansar e soltar lá de cima. 
Atropelar motoboys (eu sempre assumo que são motoboys) em alta-velocidade também é ótimo, viram uma massa espirrante de sangue. 
Radical, né? 
Só que no jogo não há animais ou crianças. É o limite imposto pelos desenvolvedores e aceito pelos jogadores. [...]
Eu sei que vai soar polêmico, mas da mesma forma que empalar  gatinhos, transformar motoboys em poças de sangue e tripas trituradas  não é socialmente aceito. Como então os jogos têm dois pesos e duas  medidas?
Acredito que seja algo instintivo. Intuímos que não é correto matar outro humano, mas também aprendemos que sob determinadas condições isso é moralmente justificado. [...]
Já crianças, é instinto fundamental. Espécies que não preservam sua prole tendem à extinção. Salvar uma criança é visto como um gesto de grande nobreza em todo o mundo civilizado. Costumo falar que a cena do garotinho que nunca tinha provado chocolate, em Band of Brothers me deixou com mais raiva dos nazistas do que o episódio do campo de concentração, que era algo já esperado.
A recepção calorosa com que são recebidos pedófilos e assassinos de crianças nas prisões vai muito além do clichê “honra entre ladrões”, os criminosos “normais” trabalham dentro de limites morais (embora variados), condenando os que os extrapolam.
Permitir  que um jogo barbarize com crianças “a sério” é algo que iria alienar  toda uma base de jogadores psicologicamente equilibrados, embora fosse  agradar a uma minoria psicopata. 
Animais indefesos seguem pelo mesmo caminho. Olhos grandes, desproporcionais, membros curtos, todas as dicas de “filhote”.
Para nosso cérebro irracional não há diferença se é filhote humano ou não.
Toda brincadeira tem regras, tudo a sério tem regras. Nem sempre elas são as mesmas, mas não deixam de existir. Todo mundo tem um código de comportamento pertinente ao grupo social que participa, mesmo os grupos que mais se vendem como anárquicos, pois por mais que você fuja das convenções sociais, no máximo ingressará em um grupo que foge das convenções sociais dos outros, criando para si novas convenções.
Portanto não deixa de ser irônico o mesmo grupo que é (corretamente) contra a censura artificial dos jogos exercer a auto-censura natural sem pensar duas vezes.
Acredito que seja algo instintivo. Intuímos que não é correto matar outro humano, mas também aprendemos que sob determinadas condições isso é moralmente justificado. [...]
Já crianças, é instinto fundamental. Espécies que não preservam sua prole tendem à extinção. Salvar uma criança é visto como um gesto de grande nobreza em todo o mundo civilizado. Costumo falar que a cena do garotinho que nunca tinha provado chocolate, em Band of Brothers me deixou com mais raiva dos nazistas do que o episódio do campo de concentração, que era algo já esperado.
A recepção calorosa com que são recebidos pedófilos e assassinos de crianças nas prisões vai muito além do clichê “honra entre ladrões”, os criminosos “normais” trabalham dentro de limites morais (embora variados), condenando os que os extrapolam.
Animais indefesos seguem pelo mesmo caminho. Olhos grandes, desproporcionais, membros curtos, todas as dicas de “filhote”.
Para nosso cérebro irracional não há diferença se é filhote humano ou não.
Toda brincadeira tem regras, tudo a sério tem regras. Nem sempre elas são as mesmas, mas não deixam de existir. Todo mundo tem um código de comportamento pertinente ao grupo social que participa, mesmo os grupos que mais se vendem como anárquicos, pois por mais que você fuja das convenções sociais, no máximo ingressará em um grupo que foge das convenções sociais dos outros, criando para si novas convenções.
Portanto não deixa de ser irônico o mesmo grupo que é (corretamente) contra a censura artificial dos jogos exercer a auto-censura natural sem pensar duas vezes.
Adaptado de: Meio Bit Games - http://meiobit.com/78816/games-violncia-abuso-barbaridade-mas-tudo-dentro-de-um-limite-claro/. Por Carlos Cardoso.


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