Buracos negros

O termo universo é a chave que remete nossa imaginação a uma imensidão sem fim, em que pontos e regiões brilhantes se sobressaem, contrastando com um fundo negro ilimitado que alguns chamam de infinito.

Os pontos brilhantes que adornam o céu escuro são, na maioria, estrelas que seguem um rito natural, semelhante ao dos seres vivos, de nascimento, vida e morte.

Nuvens de gases e poeira cósmica, constituídas principalmente por hidrogênio, começam a se aglomerar movidas por forças de atração gravitacional. É nesse momento que tem início o surgimento de uma nova estrela, cujo núcleo vai adquirindo temperaturas elevadíssimas, da ordem de milhões de graus Celsius. Essa elevação da temperatura desencadeia o processo de fusão nuclear que transforma o hidrogênio em hélio. Dessa forma, quantidades fantásticas de energia radiante são lançadas no espaço, propagando-se com a velocidade da luz (c = 300 000 km/s).

A Terra recebe do Sol, nossa estrela mais próxima, uma quantidade de energia equivalente, em média, a 2 calorias por segundo por centímetro quadrado de área perpendicular aos raios solares. Só para se ter uma idéia da energia liberada pelo Sol, seriam necessárias todas as reservas de petróleo, gás natural e carvão da Terra para fornecer um milionésimo do que o Sol produz em 1 segundo.

Essa energia radiante, entretanto, é emanada pelas estrelas durante um intervalo de tempo limitado. Quando o combustível nuclear — o hidrogênio — se esgota, elas passam a se compactar, desabando sobre si mesmas pela ação de forças de origem gravitacional e concentrando suas enormes massas em volumes extremamente pequenos se comparados aos volumes originais.

Dependendo de sua massa, uma estrela poderá transformar-se num buraco negro — um corpo hipercompactado, que tem sua gigantesca quantidade de matéria aglomerada num volume muito reduzido.

O Sol tem uma massa muito pequena para se transformar num buraco negro. Sua agonia como estrela, prevista para daqui a 5 bilhões de anos, deverá conduzi-lo à condição de anã branca, que é outro tipo de cadáver estelar. Os buracos negros mais comuns têm massa equivalente à de dez sóis.

Recordemos que a intensidade da aceleração da gravidade na superfície de um astro (g), desprezada sua rotação, é dada em função de sua massa (M) e de seu raio (R) por:



g = G * M/R


onde G é a Constante da Gravitação.

Como no caso dos buracos negros M é muito grande e R é muito pequeno, resulta g muito grande, o que produz em torno desses corpos campos gravitacionais extremamente intensos, que influem significativamente em todas as massas das proximidades, inclusive na luz, que é sensivelmente desviada pela sua atração.

Quando lançamos uma pedrinha verticalmente para cima, a partir da superfície de um astro, ela atinge determinada altura máxima e, depois de certo intervalo de tempo, retorna praticamente ao ponto de partida. Se repetirmos o lançamento imprimindo à pedrinha uma velocidade inicial maior, ela se elevará a uma altura maior, mas ainda voltará ao solo, atraída gravitacionalmente pelo astro. Se lançarmos a pedrinha sucessivamente com velocidades cada vez maiores, chegaremos a situações em que ela "escapará da gravidade do astro", não mais retornando à sua superfície.

A velocidade de escape na Lua, por exemplo, é de 1,8 km/s; na Terra, de 11,2 km/s e no Sol, de 620 km/s. Nos buracos negros, a velocidade de escape supera a barreira dos 300 000 km/s; por isso, nem mesmo a luz consegue escapar da sua atração. É por esse motivo que esses corpos celestes são invisíveis, tendo sua presença registrada apenas pela expressiva influência gravitacional manifestada nos arredores.

Se o Sol tivesse volume igual ao da Terra, a velocidade de escape desse astro fictício seria de 6 500 km/s. Para que a Terra se transformasse num buraco negro, sua massa deveria ser compactada até volumes menores que o de uma bola de gude.

Apesar de ser um tema muito discutido em nossos dias, os buracos negros já vêm sendo estudados desde o século XVIII: o astrônomo inglês John Michell (1724-1793) analisou a possibilidade da existência desses corpos, o mesmo ocorrendo com o matemático francês Pierre Simon de Laplace (1749-1827).

Atualmente, todas as teorias astronômicas utilizam essa concepção, dotando o Universo desses pólos invisíveis, verdadeiros sorvedouros de matéria, que desafiam a imaginação e levam o homem a se questionar em busca de explicações.

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