A sabedoria popular está repleta de mitos relacionados à saúde. Associar resfriado a "friagens" - leia-se, golpes de ar ou cabelo molhado em dias frios - é um clássico. E quem nunca teve receio de cair na piscina após o almoço, por medo de indigestão?
Recomendações repetidas geração após geração deixam de ser questionadas, ainda que os médicos não as endossem. O problema se agrava quando a história vai além de restringir hábitos e passa a prejudicar a saúde. O caso mais recente é o que atribui efeitos colaterais graves à vacinação. A polêmica começou no fim da década de 90, quando a conceituada revista científica The Lancer publicou um estudo associando a vacina tríplice viral à ocorrência de autismo. Logo depois, o estudo revelou-se uma fraude, o que resultou na cassação do registro médico de Andrew Wakefield, autor do trabalho. Apesar da retratação da revista, há dois anos, a farsa ainda afeta a decisão de pais que, equivocadamente, deixam de vacinar seus filhos. Veja o que dizem os médicos sobre oito mitos relacionados à saúde.
Mito: Friagem causa resfriado
O que dizem os médicos: Não
Gripes e resfriados são causados por vírus, não pelo frio. A tal friagem também é incapaz de afetar o sistema imunológico - apenas a má alimentação, a falta de sono e o excesso de exercícios físicos podem prejudicar as defesas do organismo de uma pessoa saudável. Outro vilão associado aos resfriados é o ar condicionado. Nesse caso, a relação está correta, mas o problema não é a temperatura, e sim a baixa umidade do ar. "O ar seco proveniente dos equipamentos resseca a mucosa das vias respiratórias, o que facilita a entrada de vírus e favorece as infecções", explica o infectologista Artur Timerman. Manter-se hidratado minimiza o problema.
O que dizem os médicos: Não
"Os possíveis efeitos adversos das vacinas são conhecidos e esperados: em alguns casos, elas podem provocar dor local, mal-estar ou febre", diz o pediatra Renato Kfouri, presidente da Associação Brasileira de Imunizações (SBIm). Além da proteção individual - em mais de 90% dos casos a vacina é eficaz -, a imunização coletiva reduz o risco de epidemia. Os benefícios da vacinação são, portanto, infinitamente superiores aos efeitos colaterais. Os quais, vale repetir, de modo nenhum incluem transtornos como o autismo.
Mito: Algumas pessoas ficam gripadas depois de tomar a vacina da gripe
O que dizem os médicos: Não
"A vacina da gripe não provoca a doença, pois é desenvolvida a partir do vírus morto e fracionado", explica o presidente da SBIm, Renato
Kfour. O que acontece é que entre 15% e 20% da população apresenta reações adversas, como mal-estar e febre - daí a confusão. "Nesses casos, não há sinais de coriza e tosse, sintomas característicos da doença. Portanto, não se trata de gripe", diz o infectologista Artur Timerman.
Mito: Ver televisão no escuro ou muito perto da tela prejudica os olhos
O que dizem os médicos: Não
Não há comprovação científica de que esses hábitos causam danos aos olhos. Tampouco ler em ambiente com pouca luminosidade provoca problemas de refração, como miopia, astigmatismo e hipermetropia, que são de origem genética. "A luz traz conforto à leitura, mas o esforço exigido pela iluminação fraca não oferece risco", diz o oftalmologista Claudio Lottenberg, presidente do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Atenção: ver TV próximo demais do aparelho pode ser, isso sim, sinal de uma miopia não corrigida, e nunca a causa do problema.
Mito: Estalar os dedos engrossa as juntas
O que dizem os médicos: Depende
Articulações engrossam em decorrência da artrose, doença degenerativa resultante de uma combinação de fatores como predisposição genética e inflamação local. Embora não provoque a doença, o hábito de estalar os dedos não é recomendado, principalmente a pessoas com maior flexibilidade nas articulações (que conseguem, por exemplo, dobrar a mão até encostar o polegar no braço). "O risco de lesionar as estruturas articulares é maior com os exercícios de impacto, mas os estalos também podem causar lesões que favorecem o desencadeamento da doença", diz José Goldenberg, reumatologista do Hospital São Luiz, em São Paulo.
O que dizem os médicos: Depende
O contato com a água não oferece risco - é o exercício físico que o faz. "Como a atividade física exige maior circulação de sangue na musculatura, há uma redução do fluxo sanguíneo no sistema digestivo e no cérebro", explica Alfredo Salim, clínico geral do Hospital Sírio-Libanês. Isso pode ocasionar náusea, vômito, tontura, fraqueza e até desmaio. Portanto, embora seja arriscado nadar, um banho ou um mergulho para refrescar depois do almoço não oferecem perigo.
O que dizem os médicos: Depende
A gastrite é a inflamação da mucosa que reveste o estômago. Entre suas principais causas estão as infecções bacterianas e o uso de medicamentos que agridem o revestimento gástrico, como anti-inflamatórios não hormonais e o ácido acetilsalicílico. "A ansiedade e o stress não causam o problema, apenas acentuam os sintomas", diz o gastroenterologista Ricardo Barbuti, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Além disso, nas pesquisas que apresentam dispepsia funcional - distúrbio sem causa orgânica em que a digestão gera desconforto abdominal - as situações de tensão podem aumentar a sensibilidade à dor e, consequentemente, o incômodo.
Mito: Suplementos de vitamina C previnem a gripe
O que dizem os médicos: Depende
É verdade que o poder antioxidante da vitamina C evita que radicais livres ataquem as células de defesa do organismo. Mas uma dieta diversificada, com porções variadas de frutas e verduras, é o bastante para proporcionar a quantidade necessária de vitamina C, ou seja, 100 miligramas por dia. "O excesso de vitamina proveniente do suplemento será eliminado pela urina", explica o clínico geral Alfredo Salim.
Adaptado de: Revista Veja. Edição 2262 - ano 45 - nº 13. 28 de março de 2012. Páginas 138-9. Clique nas imagens para ver a fonte.
Difícil é convencer as mães e avós a esse respeito...
ResponderExcluir