[...] não é que eu seja inimiga do Carnaval. Até já brinquei muito em clubes, nos blocos, nas prévias, fui até a Olinda em plena terça-feira de Carnaval. Portanto, vou falar com conhecimento de causa e revelar algumas verdades que eu encontrei por trás da fantasia do Carnaval.
A primeira delas: o Carnaval é uma festa genuinamente brasileira. Não, não é. O Carnaval, tal como nós o conhecemos, surgiu na Europa durante a Era Vitoriana e se espalhou pelo mundo afora, adaptando-se a outras culturas.
Segunda falsa verdade: é uma festa popular. Balela. O Carnaval virou negócio dos ricos. Que o digam os camarotes VIP, as festas privadas e os abadás caríssimos chamados “passaportes da alegria”. E quem não tem dinheiro pra comprar aquela roupinha colorida, não tem também direito de ser feliz? Tem não. E aqui na Paraíba, onde se comemoram as prévias, não é muito diferente não. A maioria dos blocos vive às custas do Poder Público, e nenhuma atração sobe no trio elétrico pra divertir o povo só por ser, o Carnaval, uma festa democrática. Milhões de reais são pagos a artistas da terra - e fora dela - para garantir o circo a uma população miserável que não tem sequer o pão na mesa.
Muitas coisas hoje me revoltam no Carnaval. Uma delas é ouvir a boa música ser calada à força por hits do momento como o "Melô da Mulher Maravilha" e similares que eu não ouso nem citar.
Eu fico indignada quando vejo a quantidade de ambulâncias disponibilizadas num desfile de Carnaval para atender os bêbados de plantão e valentões que se metem em brigas e quebra-quebra. Onde estão essas mesmas ambulâncias quando uma mãe precisa socorrer um filho doente, quando um trabalhador está enfartando, quando um idoso no interior precisa se deslocar de cidade para se submeter a um exame? Eu me revolto em ver que os policiais estão em peso nas festas para garantir a ordem no Carnaval e, no dia-a-dia, falta segurança para o cidadão de bem exercitar o simples direito de ir e vir.
Mas “o Carnaval é uma festa maravilhosa”, dizem até que “faz girar a economia”, “que os pequenos comerciantes conseguem vender suas latinhas, seu churrasquinho...” Olha, se esses pais de família dependessem do Carnaval pra vender e pra viver, passariam o resto do ano à míngua. Carnaval só dá lucro pra dono de cervejaria, pra proprietário de trio elétrico, e para uns poucos artistas baianos. No mais, é só prejuízo.
Alguém já parou pra calcular o quanto o Estado gasta pra socorrer vítimas de acidentes causados por foliões embriagados? Quantos milhões são pagos em indenizações por morte ou invalidez decorrentes desses acidentes? Quanto o Poder Público desembolsa com procedimentos de curetagem que muitas jovens se submetem depois de um Carnaval sem proteção que gerou uma gravidez indesejada? Isso sem falar na quantidade de DST's que são transmitidas durante a festa em que tudo é permitido?
Eu até acho que o Carnaval já foi bom. Mas, isso foi nos tempos de outrora.
Raquel Sheherazade
Jornalista e Âncora do telejornal "Tambaú Notícias"
da TV Tambaú, filial do SBT na Paraíba
Transcrição: Gutierrez PS
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